segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Os fingidores

Algures em Ponta Delgada, Dezembro 2008 | KB
Aquelas cabeças erguidas que gastam energias a rebaixar os outros para proteger as aparências fazem-me lembrar um galinheiro gigante.

Leva-se bicadas, eriça-se as penas, cospe-se inveja, ciúmes, rancores e maldades em vez de conversa.

Fala-se muito mas não se diz nada num cacarejo constante.

Não se põe ovo, pois não, mas finge-se muito que se sabe pôr ovo e até mesmo fazer omeleta.

Dentro de portas, treme-se de medo diante do espelho porque não se pode fugir de si próprio.

Arranja-se disfarces e truques para esconder as suas limitações e sobrevive-se assim, de cabeça erguida.

Até as emoções chegarem ao galinheiro como raposas gulosas em busca de vida.

Entra-se em pânico e foge-se aos soluços.

De cabeça erguida.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

O "almanhecer" *

Wroclaw, Polónia, Outubro 2007 | KB
Um folêgo partilhado serviu de despertar.

Arrumou-se a cabeça num instante, pôs-se de lado os pensamentos em curso, mandou-se calar o monológo interno e acenderem-se os holofotes da curiosidade.

Houve urgência, euforia até e uma vontade inquieta de agarrar este presente tão precioso, de saboreá-lo, de abraçá-lo e de lhe dar as boas-vindas com todo o coração.

Ficou um momento para armazenar na rubrica dos encontros marcantes, quando se testemunha a transformação do desconhecido em acarinhado.

Foi alegria espontânea na sua forma mais pura e simples.

O nascimento de uma ligação, parida de nenhures, que tornou-se num farol.

(* tipo amanhecer da alma)
 
Sejam curiosos!